quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Apocalipse



E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
Apocalipse 21:4


Ano 2500 de Nosso Senhor. Os céus se tornaram de um vermelho incandescente após o último desastre nuclear. Os seres humanos se escondem em abrigos nucleares abaixo da superfície. Comida, água e até o ar estão racionados. A reprodução humana está sendo controlada com mãos de ferro, não se permite mais os relacionamentos sexuais, todas as crianças são produzidas. As fábricas de gente produzem o ser humano segundo a necessidade da indústria. O Just in Time alcançou também esse patamar.
A Internet é o único espaço ainda livre de transição de ideias. E, nela, os profetas do apocalipse se multiplicam tanto quanto as ratazanas nos abrigos underground das cidadelas. Declamam o fim dos tempos. Pregam a vinda do profeta, o toque das trombetas e, apoteoticamente, o fim dos tempos.
Hoje, no terceiro dia do quarto mês do ano, o meu mundo acordou energeticamente diferente. Tudo está eletricamente calmo. O silêncio grita por problemas. E a pele se arrepia indicando um sentido nisso tudo que o meu cérebro não consegue formalizar.
O mundo parou.
Nenhum som. Nenhuma pessoa. Nenhuma indicação de existência de vida.
Pressinto, esqueceram de mim neste intervalo de tempo entre o hoje caótico e o amanhã desconhecido. Mas, se o mundo parou o tempo deixou de existir. O tempo invenção da serpente quando deu a maçã à Eva e a convenceu à enganar Adão. O tempo promulgado por Deus quando disse ao homem que seguisse o seu caminho e obtivesse seu sustento entendendo a natureza e o seu ritmo.
Se o mundo parou. Não. O mundo parou! Logo, o apocalipse chegou. O que irá acontecer comigo? Aonde está o tribunal celeste com sua horda de anjos a me julgarem? Cadê o livro aonde está escrito tudo aquilo que de bom e ruim eu fiz? Aonde estão as pessoas que enganei e me enganarão? Cadê aquele padre que me disse que se eu não fosse bonzinho eu não iria para o céu e, por outro lado, que eu padeceria no inferno até o fim dos tempos?
Deus!
O tempo parou e você não chegou!
Céus! Que barulho é esse? Senhor não sabia que eras tão audível assim e tão fácil de marcar uma audiência. Se eu assim o soubesse já o teria feito.
Filho!
Mãe!
Calma. Apenas saí e fui à padaria comprar um pão. Porque você está tão assustado? Viu outro filme de ficção ontem? Acalma-te. O céu continua azul, o ar ainda é respirável e ainda moramos no 15º andar e não no subterrâneo.

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