terça-feira, 17 de setembro de 2013

Abandono

No despertador estrategicamente colocado ao lado da cama, o visor indica 05:30 – a alvorada.

Ela se levanta, meio trôpega, vai para o banheiro e inicia a rotina de asseio diária. Escova os cabelos, prende-os na touca, banho rápido de cinco minutos e escova os dentes.

No quarto, dia a dia os mesmos passos. Creme hidratante, desodorante, roupas intimas e roupa de escritório.

O despertador a traz de volta ao planeta, agora são seis horas. Acordar as meninas. Um breve pensamento grita: “Elas e eu queremos dormir”.

Arruma as crianças, leite no copo e pão no prato, lancheiras arrumadas, uniformes e penteados verificados. São sete horas, elas partem. A moça do transporte chegou.

Na rotina cadente tal qual pêndulo de relógio de parede, os afazeres não podem esperar. Não pode cochilar. Arruma as bolsas e sai.

Caminha.
Pega o trem.
Caminha.
Pega o ônibus.
Bate o ponto.
Trabalha.
Almoço.
Trabalha.
Bate o ponto.
Caminha.
Pega o ônibus.

Cumprimenta a recepcionista no segundo emprego. Reunião, ordens, reunião – não necessariamente nessa ordem.

Sai.
Caminha.
Pega o Metrô
Pega o Trem.
Caminha.
Entra em casa.

Retorno a balburdia amada. Verifica os deveres de casa, ouve as histórias. Conta histórias para dormirem. Às vezes, cochila.

Senta ao computador.
Trabalha.

O relógio marca 01:00. O serviço não terminou. O sono venceu.
Toma uma chuveirada morna. Coloca a camisola e deita.
Então, a coberta de algodão cru toca o seu corpo e sussurra baixinho: “Você está sozinha. Boa Noite!”.



Escrito por Simone da Silva Figueiredo em
13 de setembro de 2013 – 10:07

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